O sanfoneiro, a bailarina e a estátua viva.


 
Porque eu simplesmente acho que os melhores momentos das nossas vidas muitas vezes não podem ser capturados por lentes de câmeras fotográficas, eles acontecem de repente muito mais rápido do que a gente poderia imaginar, ficam  bem guardados na nossa memória como uma foto única e que só nós mesmos podemos enxergar, aquelas memórias que talvez a gente leve com a gente quando morrermos...

Ontem foi um sábado comum, meu passarinho voou e eu chorei, mas prometi para mim e para ele que não iria me deixar ficar triste por um longo período, a vida é curta demais para sofrer ela inteira,  nós temos de ser fortes de todas as formas, então decidi sair, caminhar pela cidade, sem precisar falar nada só escutar.

Venho por meio deste texto tentar fixar na minha memória um dia especial no qual eu realmente senti e vi coisas lindas serem maiores do que as coisas tristes desse mundo, um dia em que eu percebi que você pode não ter dinheiro nenhum, uma casa ou uma família, nenhum amigo, ou até mesmo não ter um cachorro de estimação do seu lado, mas você nunca vai estar sozinho, vai ter gente seja aqui do lado ou lá no Japão igualzinho a você, são coisas universais, por mais que o ser humano seja diferente um do outro de certa forma o que nos une é o sentimento universal, como o de escutar uma música bonita e se emocionar com ela, o de sentir saudade, mas estar feliz por uma pessoa especial estar feliz. 

Nós, as vezes procuramos refugio, procuramos a felicidade que está bem ao nosso lado, ela pode não ser constante porque afinal é impossível rir a cada segundo... 

Então aconselho aos meus leitores, amigos, pessoas especiais e as vezes as que eu nem conheço mas ei de conhecer um dia,  a sair para caminhar por um lugar diferente quando se sentir pra baixo... 

Você pode se surpreender com o lindo som de violinistas na frente de uma construção:

 

E ficar longos e belos minutos escutando um som diferente e realmente sentindo ele de um modo que só estando lá para sentir. 

Você pode ficar admirado com a rapidez de um desenhista de quadros surreais ao som de música alternativa e ainda por cima ver as pessoas ao seu lado surpreendidas :


Pode muito bem invadir o mundo do pirata bêbado, rir com ele e dizer adeus sorrindo mesmo sem saber quem seria aquele homem por trás de toda fantasia : 



Por que não dançar música indiana de um jeito desengonçado no meio da Av. Paulista ... Só pra me divertir e me imaginar em outro lugar só meu ? 


Caminhar, apenas caminhar e olhar pra frente, quem sabe eu não escute e sinta em meu peito o som de uma música forte, e me emocione com o sorriso de gente simples como eu : 


Mas há coisas como comer milho, e de repente escutar ao longe um sanfoneiro tocando a trilha sonora do seu filme preferido te fazendo chorar, encontrar a lua no céu e sorrir pra ela como se fizesse um pedido.

É tão inexplicavelmente impressionante sentir as coisas a flor da pele, porque ninguém além de mim e de um mendigo da calçada escutava o sanfoneiro tocando aquelas músicas que me faziam entrar em êxtase e pensar somente em coisas bonitas, fazendo toda a emoção contida no meu coração sair pelos meus olhos.      

Ele era um senhor simples, tocava sem muita seriedade sua sanfona na frente de uma banca de jornal para ele mesmo e para as pessoas que quisessem ouvir, fazia do seu mundo um monte de estrelas e voava me fazendo sutilmente voar para todos os meus sonhos e me emocionar de tal forma de um modo que aquela cena se tornasse um sonho indescritível, incrível, no qual só eu sabia enxergar e que eu jamais irei esquecer. 

Eu me senti leve como a bailarina delicada e branca que eu vi dançando e entregando flores sorrindo para as pessoas, ela era linda e fazia as pessoas sorrirem e admirarem sua leveza, as menininhas que passavam ali naquele momento se referiam a ela como uma fada, e ela era mesmo, uma poesia para os olhos, acalmava e fazia até o ser mais bruto e chucro ser sentimental. 

Eu queria ter ganho aquela pedra que a estátua viva e paciente entregava próximo dali, a "estátua" tinha sentimentos e fazia isso transparecer a cada movimento calmo e lento, não ganhei a pedra mas ganhei um sorriso, logo depois ele fechou os olhos e paralisou, como se fosse para outro lugar estando ali mesmo.

Coisas simples, maravilhosas e tão delicadas nos levam a uma dimensão calma e plena sem muito esforço, talvez a bailarina, o sanfoneiro, e a estatua viva, fossem a Alice mãe de três filhos pequenos com um marido não tão bom que viaja por ai para trazer comida para casa, o Maurício que vive num escritório engravatado resolvendo problemas como divórcio e separação de bens e o Pedro que veio de longe, bem longe para tentar dar um futuro para a sua família...

Não importa muito o que aconteça, sempre vai haver um ponto de paz, um lugar silencioso para olhar pro céu talvez chorar,  talvez sorrir, pequenas ações mudam nossa própria vida, fazem do nosso cenário lindo ao nosso modo, fazem a gente se sentir mudos por não ter palavras para expressar, sentir cegos por entrar em um mundo onde ninguém mais enxerga, surdos por apenas sentir a leveza de uma dança, e loucos por tornamos habitantes de um mundo onde por mais que a gente descreva, ninguém mais enxerga, escuta, sente como a gente. 

O fim de tudo isso se resume em amor!

"Eis meu segredo, é muito simples: Só se vê bem com o coração" 
                                                                       O pequeno príncipe.




                                                                                                                       Lectícia Péttine 






Comentários

  1. Passaria horas aqui comentando tudo o que o teu texto me passou, mas em momentos assim as palavras tornam-se coadjuvantes e os sentimentos fortes e indiziveis se apoderam da gente. Que texto maravilhoso Lê, tudo o que você escreve faz que lê acordar um pouco, de algum modo, esse com certeza foi um dos textos mais incríveis que eu já li na vida, simplicidade, suavidade, vida, amor, tanta coisa boa que até aqueceu meu coração.

    Lindo demais, moça. *-----*

    Mais pessoas deveriam enxergar as coisas com os mesmos olhos que você, de verdade.

    Beijos.
    eraoutravezamor.blogspot.com

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